domingo, 5 de julho de 2009

PERFIL DAS ENTREVISTADAS
No decorrer do trabalho foram entrevistadas seis jovens universitárias, com idade variando de 20 a 23 anos. Dessas jovens, duas moram na zona norte do Rio de Janeiro, duas na zona sul e duas na região metropolitana (municípios de Duque de Caxias e São Gonçalo).
Em relação à escolaridade, como dito anteriormente, todas estão cursando o ensino superior, sendo que uma delas já concluiu um curso de ensino superior e está cursando uma segunda faculdade. Os cursos estudados pelas entrevistadas são divididos entre Serviço Social (03), Geografia (01), Letras (01) e Administração (01).
No momento da entrevista, (05) entrevistadas possuíam atividade remunerada, sendo que apenas uma não exerce tal atividade, mantendo-se com a pensão alimentícia fornecida pelo pai. Daquelas que recebem remuneração, todas declaram que ainda dependem financeiramente dos pais. Essas não contribuem para a renda familiar e contam com a complementação da renda pelos pais, para custear os gastos com a faculdade. Segundo as entrevistadas, a quantia que recebem é gasta com lazer e compras em geral. Com exceção de uma das entrevistadas que reside com uma amiga da família, as demais jovens residem com os pais, em imóvel próprio.
Em relação a cor/etnia, três se declaram brancas, duas morenas e uma parda. As jovens também afirmam não possuir namorado e no momento estarem “solteiras”.



ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
O questionário conta com doze questões iniciais que abordam temas como a passagem da adolescência para fase adulta, relação entre lazer e ficar na juventude atual e a relação de gênero existente nas relações afetivas nos dias de hoje.
A maioria das entrevistadas (05) se auto-declaram adultas. Quatro destas relacionam a condição adulta à questão da idade – acima de 18 anos - e as responsabilidades de seus atos perante a lei; uma delas declara que é adulta pois as pessoas dizem isso a ela; e apenas uma teve dificuldade em se localizar em alguma posição, afirmando “não sou madura para ser adulta, não pago contas nem tenho responsabilidades, mas também não sou adolescente”. Durante a aplicação dos questionários pudemos perceber as dificuldades que as entrevistadas possuem em se classificar adultas ou não, porém todas não gostam de ser identificadas como adolescente. Muitas baseiam sua fala em instrumentos legais que as declaram como adultas, porém se contradizem ao longo do questionário.
Quando questionadas sobre como se enxergam daqui a 20 anos, cinco das entrevistadas fazem referência a casamento, inclusive uma afirma que já estará divorciada. Embora a sociedade atual esteja diante da desconstrução da instituição casamento, grande parte declara que pretende viver esta experiência, mesmo que não seja para sempre. As entrevistadas não tem o casamento como prioridade, e objetivo central, mas fazem clara referência em constituir em ter filhos. Segundo nossa avaliação, as entrevistadas não valorizam a família patriarcal uma vez que colocam os filhos como prioridade frente ao casamento, como apontado por Justos em seu estudo:
“Há algum tempo vem-se observando mudanças na organização da família devido às transformações nos vínculos amorosos e nos relacionamentos que davam suporte a família nuclear tradicional.” (JUSTO, 2005)
Através das entrevistas e discussões realizadas em grupo com as entrevistadas é notório a descrédito no amor romântico e único. Todas as entrevistadas apontam a inexistência de um único amor na vida ou um “príncipe encantado”. Afirmam que atualmente os jovens vêm banalizando o verbo amar e que amar é algo difícil de ser definido, mas que envolve companheirismo, lealdade e respeito. Metade das entrevistadas relata que nunca viveram um “amor de verdade”, e desvinculam totalmente o significado de amor e paixão.
Todas as entrevistadas definem o ficar como algo passageiro e momentâneo:
Possibilidade instantânea de matar um desejo sem haver compromisso” (J.B., 23 anos)
“É algo sem compromisso, instantâneo, só para saciar a vontade” (P.R.G., 23 anos)
“Estabelecer contato sem qualquer expectativa” (K.S.M., 20 anos)
Através da fala das pesquisadas podemos perceber que estas desvinculam o conceito de ficar e namorar, porém concordam o primeiro seja necessário para existência do segundo. Alegam que para haver um relacionamento mais sério é necessário estabelecer um primeiro contato, para depois então firmar um namoro. Tal perspectiva reafirma a análise de Justos sobre o ficar:
“Embora a palavra ‘ficar’ tenha o sentido genérico de parada e permanência, sugerindo uma certa fixação em algum lugar, seu uso pelos adolescentes ao contrário, designa um relacionamento episódico e ocasional, a maioria das vezes com a duração de apenas algumas horas ao longo de uma noitada de festa e diversão. A prática mais comum envolve beijos, abraços e carinhos. Outra característica importante é que o ‘ficar’ não implica compromissos futuros e é visto como um relacionamento passageiro, fortuito, superficial sem maiores conseqüências ou envolvimentos profundos”(JUSTOS, 2005)
Analisamos que o ficar vem sendo socialmente “aceito” pela sociedade, estando popularizado nas práticas sociais dos sujeitos. Uma das hipóteses que consideramos para este fenômeno é que em nossa sociedade há uma naturalização da sexualidade entre os jovens e adolescentes (CALAZANS, 2005)
Outro ponto abordado na entrevista é a diferença de significado do ficar para os homens e para as mulheres. A maioria das entrevistadas afirmam que existe esta diferença: os homens pensam o ficar como uma iniciativa do ato sexual, enquanto as mulheres não; ou que esta diferença ocorre devido ao fato das mulheres “ficarem” para buscar um relacionamento sério enquanto os homens enxergam o ficar com um fim em si mesmo.
Quando questionadas sobre o sexo casual como conquista do movimento feminista, todas as entrevistadas negaram tal perspectiva. Afirmam que a mulher pratica sexo por uma opção individual, não sofrendo qualquer influência da luta feminista. Percebemos que as entrevistadas não avaliaram a luta pela liberdade sexual do movimento feminista no final do século XX como motivador da maior liberdade de opção que as mulheres possuem atualmente.

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