sábado, 4 de julho de 2009

Relatório do trabalho de campo na Quadra do Salgueiro


Propomos ao nosso grupo de entrevistada que necessitaríamos de sair um dia para "balada" junto a elas para observarmos como se dariam suas atitudes neste espaço. Estas nos proporam a ir a um aniversário de uma amiga que seria realizado no dia 29 de maio de 2009, na Quadra do Salgueiro durante o baile funk realizado pela Furacão 2000. Como dito anteriormente, o grupo de entrevistadas compõe se por dois grupos distintos de amigas. A proposta da ida ao Baile do Salgueiro partiu de um grupo e levamos esta ao outro grupo de amigas, que de imediato gostaram da proposta e confirmaram presença no evento.
Marcamos de nos reunir na casa de uma das pesquisadoras, próximo ao local do evento, onde todas as entrevistadas se arrumariam para a "balada”. Durante os preparativos, percebemos que todas as meninas estavam bastante preocupadas com sua aparência e algumas ansiosas para saber como seria este local, visto que nunca tinham ido antes ao evento.
Partimos por volta das 21 horas para a quadra do Salgueiro. As entrevistadas optaram por irem cedo para beberem na porta, visto que "a bebida lá dentro é muito cara". Todas nós pegamos um ônibus do Méier até o Andaraí e durante o trajeto podemos perceber a facilidade de entrosamento entre as entrevistas- algumas nunca haviam se visto anteriormente. Ao chegarmos à porta do baile, de pronto uma das meninas conseguiu cadeiras e mesa com um ambulante, que já a conhecia de outros bailes. Ali iniciaram o consumo de cerveja que perduraria ao longo da noite. Aproveitaram aquele momento para "fazer o reconhecimento da área' e explorar possíveis ficantes. Daquelas que não conheciam o local, observamos surpresa, visto que imaginavam que a quadra do Salgueiro seria na entrada da favela e por isso só teria presente no local o "pessoal da área". Notaram e fizeram diversos comentários sobre a quantidade de "playbozada
[1]" presente no local, encontrando diversos colegas da faculdade. Estes colegas nos disseram que eram frequentadores assíduos do local e que não se importavam de sair da Zona Sul para curtir o baile ali, trocando "qualquer Baronetti[2] pelo baile do Sal[3]".
Depois de cerca de 2 horas na porta do evento "fazendo uma social
[4]", as meninas resolveram adentrar no recinto. Cada uma desembolsou R$ 10 para a entrada e beberam cerveja (R$ 3 cada lata) e caipirinha (R$5 o copo de 300 ml). Cada entrevistada gastou cerca de R$ 40 na noite, incluindo entrada, bebida e transporte.
Ao entrarmos na quadra do Salgueiro, logo chama-nos atenção a quantidade de vermelho (cor da escola de samba) existente no espaço, segundo uma das entrevistadas aquela "cor era para aumentar a libído". Ao longo da noite, o único ritmo tocado era o funk que em sua maioria trazia letras que suscitava a sexualidade. Notamos que ao entrarem no recinto, já com um nível alcoólico alterado, as entrevistadas não diminuíram o ritmo de ingestão da bebida. Permaneceu o clima de descontração e entrosamento entre as entrevistadas. Entre algumas risadas e danças engraçadas, havia algum comentário de algum garoto bonito que as chamava atenção, e prontamente todas olhavam para o rapaz de uma só vez sem qualquer preocupação em disfarçar. Porém, percebemos que o grupo de entrevistada não mantinham o foco na paquera, mas sim queriam rir e "sacanear" entre si e as outras pessoas. Tal postura era diferente dos demais frequentadores do local que em sua maioria estavam à procura de um (a) ficante. Algumas meninas começaram a se destacar e começaram a "dar rolés
[5]" sozinhas, a fim de procurarem algum menino que as interessasse, mas a grande maioria permaneceu junta e com as recorrentes brincadeiras sobre o estilo das demais pessoas ou o "nível de beleza".
Embora as meninas não tenham realizado o "jogo de sedução
[6]" muito utilizado nas boates do Rio de Janeiro e tenham priorizado a diversão entre si, dentre as seis entrevistadas presentes apenas uma não ficou com ninguém, sendo que duas ficaram com mais de um menino. Um fato interessante que nos chamou atenção é que grande parte das meninas não queria ficar muito tempo com o menino-ficante, queriam apenas beijar e que ele fosse embora para que elas pudessem rir e dançar mais entre as amigas. Tal fato reflete bem os dados colhidos nas entrevistas quando a grande maioria coloca o ficar apenas como um ato imediato sem qualquer ligação com um futuro relacionamento, ocasionado para saciar uma vontade momentânea.
Dentre todas as ficadas, apenas duas trocaram telefone, sendo que apenas uma recebeu ligação no dia seguinte e encontrou-se com o ficante algumas vezes durante o período da pesquisa.
Podemos concluir que ao longo deste trabalho de campo muitas das afirmativas fornecidas no questionário puderam ser confirmadas, como a imediaticidade do ficar e a questão de gênero presente no ficar, uma vez que as meninas que ficaram com mais de um menino foram alvo de brincadeiras entre elas, como se esta fosse uma atitude rara de ocorrer nos dias atuais, sendo normal entre os homens e vexatório entre as mulheres. É notório que a comemoração do aniversário da amiga foi tomada como um momento de confraternização, onde todas queriam sair, dançar e brincar, sendo sua ultima prioridade ficar com alguém. Por fim, destacamos que grande parte das entrevistadas fez uso abusivo de álcool o que as deixou mais a vontade para realizar brincadeiras que em outros momentos seriam tidas como "sem-noção".
[1] Neste contexto, jovens de classe média e classe média alta que se vestem bem e que nada se assemelham aos moradores da favela.
[2]Boate de luxo na Zona Sul do Rio de Janeiro
[3]Como é popularmente conhecido o baile funk do Salgueiro
[4] Conversar entre amigos, encontrar pessoas, marcar presença em algum local.
[5]Sair do local fixo onde os amigos estão para encontrar ou paquerar outras pessoas.
[6]As entrevistadas diversas vezes afirmam que não fazem jogo de sedução, ou seja, não estão preocupadas em conquistar os homens, agem naturalmente.

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